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Tacacazeiras: a força feminina que transforma o ta...

Tacacazeiras: a força feminina que transforma o tacacá em patrimônio e projeta a Amazônia para o mundo.

Reconhecimento do IPHAN valoriza o ofício dessas mulheres e reforça o papel do turismo gastronômico nacional

No Norte do Brasil, onde a Amazônia pulsa em cores, cheiros e histórias, um ofício feminino atravessa gerações e se transforma em identidade: o trabalho das tacacazeiras. São elas as guardiãs de um dos sabores mais emblemáticos do país — o tacacá — e responsáveis por manter vivo um saber ancestral que une agricultura tradicional, técnicas culinárias indígenas e a força criativa das mulheres amazônidas.

Nesta terça-feira (25/11), esse legado ganhou um marco histórico. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) reconheceu oficialmente o Ofício das Tacacazeiras da Região Norte como Patrimônio Cultural do Brasil, inscrevendo-o no Livro dos Saberes. A decisão destaca o papel fundamental dessas mulheres na preservação de práticas tradicionais e da culinária amazônica, e reforça a potência do turismo gastronômico nacional.

Mãos que alimentam, propagam cultura e sustentam famílias

Muito além de preparar um prato típico, as tacacazeiras transformam o tacacá em sustento, afeto e cultura. Cada cuiá servido conta uma história que começa na mandioca — no tucupi, na goma, no jambu — e termina na mesa dos mercados, feiras e praças que movimentam as cidades amazônicas.

O estudo da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), que embasou o registro, revela que quase 70% das pessoas que trabalham com o tacacá são mulheres, muitas delas de meia-idade ou mais velhas. Aprenderam o ofício com mães, avós e sogras, e hoje são pilares de transmissão desse conhecimento para as novas gerações. Em Belém, registros literários e artísticos remetem à presença das tacacazeiras desde o século XIX, quando o ofício passou a ser uma importante estratégia de sobrevivência diante das dificuldades econômicas.

Patrimônio que fortalece o presente e projeta o futuro

O discurso do ministro do Turismo, Celso Sabino, ecoa o sentimento de reconhecimento nacional: o tacacá não é apenas alimento — é embaixador da biodiversidade e da história amazônica. Para o turismo brasileiro, essa valorização significa muito mais que um título: abre portas para experiências que conectam viajantes à essência da região, por meio de sabores autênticos e narrativas reais.

Com o registro, o IPHAN dará início à elaboração de um Plano de Salvaguarda, estruturado em cinco eixos — gestão e empreendedorismo; acesso a matérias-primas; melhores condições de comercialização; divulgação cultural e gastronômica; e direito à cidade. Trata-se de um passo decisivo para garantir não só a preservação do saber-fazer, mas também condições dignas e infraestrutura adequada para que essas mulheres continuem exercendo seu ofício com segurança e autonomia.

Tradição, identidade e turismo

Assim como o Ofício das Baianas de Acarajé, o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro e as Tradições Doceiras de Pelotas, o trabalho das tacacazeiras integra agora um seleto conjunto de práticas culinárias brasileiras reconhecidas como patrimônio cultural. São saberes que narram o país por meio da comida — talvez a linguagem mais universal e potente que temos.

Para quem viaja pelo Brasil em busca de autenticidade, encontrar uma tacacazeira é mais que degustar um prato típico: é vivenciar a Amazônia por meio de gestos, histórias e sabores que não se repetem em nenhum outro canto do mundo. É tocar um Brasil que se orgulha de suas raízes e que encontra nessas mulheres um símbolo de resistência, criatividade e pertencimento.


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