Mostra “Hêmba” reúne mais de 10 anos de imagens que unem ancestralidade, arte e resistência indígena
São Paulo recebe, a partir de 25 de outubro, “Hêmba”, a primeira exposição individual do fotógrafo e antropólogo indígena Edgar Kanaykô Xakriabá. A mostra gratuita ocupa três salas do charmoso Solar Fábio Prado, na Avenida Faria Lima, até 15 de dezembro, e apresenta um mergulho profundo no imaginário e na cosmologia do povo Xakriabá — em uma fusão entre arte, espiritualidade e território.
“Hêmba” significa “alma e espírito” na língua Akwẽ, e esse sentido pulsa em cada imagem. São mais de dez anos de produção fotográfica, com registros que transitam entre o visível e o invisível, o humano e o não humano, o político e o poético.
Com curadoria de Fabiana Bruno e Eder Chiodetto, a exposição é dividida em três núcleos — Território, Cosmologia e Resistência — que se conectam de forma orgânica, como um corpo vivo. “O espaço foi pensado como um organismo interligado, refletindo a visão indígena sobre a inseparabilidade dos mundos”, explica Fabiana.
Entre os destaques, está a poderosa imagem do pajé Vicente Xakriabá em canto e dança. “Foi ele quem me conduziu a pensar os conceitos do Hêmba, da imagem, da alma. Essa foto representa o instante em que as imagens dos mundos humanos e não humanos dançam juntas”, conta Edgar.
Aprendendo a fotografar ainda em sua aldeia, Edgar construiu uma linguagem visual única — um “estilo território”, como ele próprio define. Sua fotografia rompe os limites da linguagem ocidental ao integrar arte, ancestralidade e ciência, criando uma nova perspectiva sobre a imagem indígena no Brasil.
A fotografia é um meio de luta. É uma forma de mostrar, com outro olhar, quem somos como povos indígenas”, afirma o artista. Suas imagens — muitas delas presentes no fotolivro Hêmba, lançado em 2023 — evocam natureza, espiritualidade e memória: sementes, troncos, céu, lua, fogo, água, animais e outros elementos que compõem a alma do território Xakriabá.

As imagens apresentadas na exposição, a maioria oriundas do fotolivro Hêmba, publicado em 2023 pela Fotô Editorial, e outras inéditas, são emanações de um imaginário cósmico e territorial: sementes, troncos, céu, lua, estrelas, fogo, água, animais.
Mais do que uma exposição, “Hêmba” é uma experiência sensorial. Vídeos, sons, objetos, imagens e palavras se entrelaçam num percurso circular que propõe ao visitante um caminhar poético pelos ciclos da vida. “Edgar sempre nos lembra que os ciclos vitais acontecem em elipses”, diz Chiodetto.
Ao dar voz e imagem a um artista indígena que fala a partir de sua aldeia, com câmera na mão e a ancestralidade no olhar, “Hêmba” não apenas ocupa um espaço na fotografia brasileira — ela o transforma. “A exposição é uma forma de retomar e demarcar um território que historicamente foi negado, mas sempre foi dos povos indígenas”, afirma Edgar.
Visite a exposição “Hêmba”
De 25 de outubro a 15 de dezembro
Solar Fábio Prado – Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705 – Jardim Paulistano, São Paulo
Entrada gratuita
Consulte horários de funcionamento antes da visita
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