Viajar em busca da aurora boreal é um daqueles sonhos que misturam ciência, emoção e um toque de magia. Mas quem já viveu essa experiência sabe: muitas vezes as cores registradas pela câmera parecem mais vibrantes do que aquilo que vemos a olho nu. E, ao contrário do que muitos imaginam, isso não significa que o fenômeno seja menos impressionante — apenas que o nosso corpo também precisa “viajar” para conseguir enxergá-lo plenamente.
A adaptação ao escuro é o primeiro passo dessa jornada. Para que as cores e movimentos das Luzes do Norte se revelem com mais intensidade, o sistema visual humano leva de 20 a 30 minutos para atingir sua sensibilidade máxima. É nesse processo gradual que as células da retina entram em ação.
O oftalmologista Dhiogo Corrêa explica que os bastonetes — células especializadas na visão noturna — são responsáveis por captar contornos e contrastes, revelando o movimento dançante no céu. Já os cones, que percebem as cores, entram em cena nas áreas mais iluminadas da aurora, permitindo visualizar tons de verde, rosa e até violeta.
“A aurora é resultado dessa combinação: os bastonetes captam o brilho e o movimento, enquanto os cones revelam as cores mais intensas”, destaca.
Essa percepção, no entanto, não é igual para todo mundo. Fatores como idade, acuidade visual, tempo de adaptação e o uso de óculos podem influenciar a forma como o fenômeno se apresenta. Pessoas com daltonismo, por exemplo, podem perceber menos variações cromáticas, mas ainda assim se encantar com a luminosidade que toma conta do céu.
O caçador de auroras Marco Brotto — referência mundial no tema — lembra que a diferença entre o olho humano e as câmeras modernas é natural.
“As câmeras acumulam luz por vários segundos de exposição. O olho humano, por mais sofisticado que seja, não consegue reproduzir esse efeito instantaneamente”, explica.
Para quem pretende embarcar em uma expedição em busca da aurora, os especialistas reforçam um detalhe importante: preparar os olhos é tão essencial quanto vestir roupas térmicas. Evitar telas e lanternas antes da observação ajuda a preservar a adaptação ao escuro. Além disso, óculos adequados e lágrimas artificiais podem proteger contra o ressecamento causado pelo frio intenso.
No fim das contas, independentemente de pequenas diferenças na percepção individual, a aurora boreal oferece uma vivência que vai além da técnica — é um encontro direto com a grandiosidade da natureza.
Como resume Brotto, “a aurora será sempre uma experiência especial e única. O importante é permitir-se viver esse momento com orientação e segurança — e deixar que a natureza faça o resto.”





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