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Pela estrada a fora

Pela estrada a fora

Na Idade Média ela foi chamada de mal assombrada. Teria sido também endereço para lobisomens, magos, bruxas e até para o diabo, mesmo que imaginar tal convivência fosse simplesmente inimaginável. Foi até o ano de 868 a Svarzwald e hoje é a quase impronunciável Schwarzwald. Independente de seu passado, é fato que para quem posa os olhos pela primeira vez em frente à Floresta Negra, a reação imediata é talvez uma mistura de temor e curiosidade. Antes recoberta por faias – árvores típicas do clima temperado – a área, que se estende por mais de 12 mil quilômetros quadrados, está tomada por coníferas, que rendem um aspecto misterioso, como se ali houvesse um paredão de folhas verdes. A pergunta que fica é o que há dentro dela? A caminhada é inevitável, e revela, em direções diversas, o primor da arquitetura natural.

Nesta porção de território alemão, pertencente ao Estado de Baden-Württemberg, o que naturalmente chama atenção é o Feldberg, um pico de 1493 metros, considerado o mais alto de toda redondeza, e que durante as temporadas de inverno atrai aventureiros praticantes de esqui e snowboard para apreciarem a paisagem que se cria aqui a partir de manobras radicais. Quando recoberta de neve, a montanha também é explorada por quem é adepto de um trekking mais radical, que se faz sobre o gelo ao longo de mais de 20 mil quilômetros de trilhas mapeadas. No verão, essas andanças permitem um momento de reflexão quando a vida o coloca em frente ao Lago de Constança, formado pelas águas do Rio Reno, onde o mais comum é vivenciar cada segundo seguinte num passeio de barco.

Com ares de região interiorana – em um paraíso perdido – cercada de verde por todos os lados e por um clima mais frio, a floresta está longe daquela calmaria entediante, já que em diferentes direções é possível relaxar em estadias em um dos hotéis de frente para o Lago Titisee, uma das áreas com melhor infraestrutura para o turista, além do Lago Mummelsee, ao norte da floresta, de forma que em ambas regiões, o prazer está em desfrutar de um momento intimista, tendo uma imensidão de coníferas como cúmplices. No quesito de curiosidades, a Floresta Negra carrega o Bollenhut, uma espécie de chapéu feminino que se distingue por ser ornado com pequenos pompons em seu topo. Segundo a história, o acessório que atualmente só é visto em datas comemorativas locais, foi incorporado entre as mulheres das vilas de Gutach, Kirnbach e Reichenbach, de forma que as casadas tinham pompons pretos e as solteiras, os vermelhos.

Um dos únicos motivos que faz com que em Baden-Württemberg, a Floresta Negra fique em segundo plano é a sua qualidade gastronômica, celebrada de maneira bastante sofisticada, uma vez que diversos dos restaurantes daqui possuem classificação estrelada, de acordo com o respeitado Guia Michelin, entre eles, o Schwarzwaldstube, incrustado no Hotel Traube Tonbach e dono de três estrelas, onde é aprazível a textura de cogumelos e codornas, marcas registradas da cozinha. Outro espaço renomado é o Restaurant Barreiss que baseia suas composições em ingredientes produzidos nos arredores, o que inclui, por exemplo, caranguejo servido cm risoto de limão e estragão, ou um suave purê de cenoura com maracujá e pimenta brasileira. Para quem já está com o paladar aguçado, vale dizer que no menu de pratos típicos daqui estão Schwarzwälder Schinken – um presunto fácil de encontrar -, o Bubespitzle, à base de batatas, Badischer Zwetschenkuchen, um bolo de ameixa, e a Schneckensuppe, uma sopa de caracol.

Floresta de Chocolate
No Brasil, e acredite em muitas partes do mundo, é impossível escutar a expressão Floresta Negra, e não pensar naquele bolo de chocolate coberto de cerejas. No território alemão, originalmente, o bolo leva massa de bolo de chocolate, creme de chatilly, decoração de cerejas e o Kirschwasser – licor de cereja – em sua massa. O que diferencia o bolo Floresta Negra dos outros é justamente o Kirschwasser, que provém desta região e garante a autenticidade da receita.

Para saber mais:
Germany Travel www.germany.travel


Flávia Lelis, editora de conteúdo online e amante de viagens por natureza

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