Trem Bão

Por muito tempo a cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, permaneceu esquecida na história, quando durante o século 19, todas as atenções foram transferidas para Belo Horizonte que seria eleita a capital do território mineiro. O esquecimento, no final das contas, contribuiu para a conservação de um cenário delineado por grandes ladeiras de pedra, nas quais, lado a lado, estão dispostos casarões de traços coloniais que ajudam a recontar a evolução de um lugar que no século 18 era responsável pelo maior fluxo econômico brasileiro, durante o Ciclo do Ouro no Brasil, época em que a cidade era conhecida como Vila Rica. A denominação Ouro Preto só viria em 1823, inspirada pelas pedras de coloração escura presentes em grande quantidade no rio Tripuí, e que contribuíram para a vinda de diversos garimpeiros para a região rodeada de minas de ouro, algumas delas, aliás, abertas à visitação. Nos dias atuais, o principal charme da cidade está na atmosfera jovem emblemática dos estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto, que, espalhados por todos os lados, convidam para festas nas repúblicas, pedem carona nas ruas. Divertir-se com eles é simplesmente natural.

Numa outra face, são as variadas igrejas que ditam uma nova forma de admirar esta terra. Elas estão erguidas em diferentes endereços, em variadas direções, e independente do repertório religioso do visitante, acabam por instigar aquele que se permite observar a riqueza de detalhes de telhas e altares, a grandiosidade arquitetônica ornada com ouro, e sem dúvidas, a oportunidade de estar diante de obras assinadas pelo mestre do barroco – e para sempre um mistério -, Aleijadinho. Com tantas opções à disposição, é imprescindível adentrar a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, onde reside a principal obra de Manuel da Costa Athayde, uma pintura de Nossa Senhora Rainha dos Anjos mulata, no forro da nave. Já na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, cujo projeto é de Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho, vislumbra-se o primor do entalhe, bem como, desfruta-se de um museu todo dedicado ao ícone do barroco brasileiro. Tanto Aleijadinho quanto seu pai estão enterrados nesta igreja.

Mas por estes arredores, não reinam somente as marcas deixadas pela tradição religiosa, já que a praça Tiradentes e o Museu da Inconfidência se distinguem por estarem carregados de significados históricos, uma vez que, nesta praça foi exposta a cabeça de Tiradentes – líder da Inconfidência Mineira morto em 1792 – e no museu, logo ao fundo, estão documentos, lápides dedicadas aos inconfidentes e aqueles que seriam os restos da forca do revolucionário mineiro. De volta às ruas de pedras – aliás, sempre escorregadias -, uma nova descoberta se faz em frente à Igreja São Francisco de Assis onde ocorre diariamente um feira dedicada ao artesanato, com destaque para os artigos feitos em pedra sabão. Uma curiosidade é que todos os dias, ao fim do expediente, os artesãos vão para suas casas, mas as peças permanecem nos mesmos locais, protegidas apenas com capas contra a chuva. E, não, não há roubos.

Tombada Patrimônio Cultural da Humanidade, segundo a Unesco, e ponto central dos três caminhos da Estrada Real, a cidade é também o endereço da Casa de Tomás Antônio Gonzaga, autor de Marília de Dirceu (1792), uma das obras literárias de excelência do arcadismo. A construção de amplas medidas mantém ares residenciais, embora atualmente seja sede para a Secretaria Municipal de Turismo e Cultura. Pela janela da casa, observando a vista que se forma a partir da conjunção entre a série de casarões coloridos e gigantes montanhas esverdeadas, coloque mais itens obrigatórios na sua lista, para que a experiência por aqui seja inevitavelmente perfeita: cafés da manhã regados com pão de queijo macio, e uma sobremesa dos deuses, no restaurante O Passo, que serve um petit gateau de doce de leite acompanhado de queijo coalho e sorvete de creme. Depois disso, sem palavras.

De Igreja em igreja
Quando se está em Ouro Preto não há como deixar de conhecer as diversas igrejas locais. Entre as principais para entrar no seu roteiro estão:

Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis – Largo do Coimbra
Igreja Matriz Nossa Senhora do Pilar – Pça Monsenhor Castilho Barbosa
Igreja São Francisco – Largo de São Francisco
Igreja de Nossa Senhora da Conceição – Largo de Nossa Senhora da Conceição
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos – Largo do Rosário
Igreja Nossa Senhora do Carmo – Rua Brigadeiro Mosqueira
Capela Padre Faria – Rua Padre Faria
Igreja Santa Efigênia dos Pretos – Ladeira Santa Efigênia
Igreja São Francisco de Paula – Rua Padre Rolim
Igreja Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia – Rua Padre Rolim
Igreja Nossa Senhora das Mercês e Perdões – Rua das Mercês
Capela Nossa Senhora das Dores – Alto das Dores
Capela de São José – Ladeira Teixeira
Capela de São Sebastião – Morro de São Sebastião

Raio-X
Cidade: Ouro Preto
Clima: temperado quente
Temperatura média: 17˚ (inverno) e 22˚ (verão)
Área: 1245 km²

Para saber mais:
Prefeitura de Ouro Preto www.ouropreto.mg.gov.br

Foto: Justine Arena


Flávia Lelis, editora de conteúdo online e amante de viagens por natureza

Artigos Relacionados

[fbcomments]
INSTAGRAM
SIGA A GENTE
Translate »