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Entre o couro e o aroma

Entre o couro e o aroma

Difícil entender o que foi mais surpreendente no encontro entre mim e o Curtume Chouara, em Fes, no Marrocos. As respostas são variadas, partindo desde o aperto onde todo o processo de limpeza do couro acontece, até a normalidade com o gerente da loja de artigos em couro fala em português. No entanto, superado o desafio da língua, o curtume é um lugar que ensina sobre outros valores que passam despercebidos em cidades espalhadas por aí, posto que diariamente homens com no máximo 40 anos se afundam descalços – sem luvas, botas ou máscaras-, em tanques cobertos de cal, excrementos de pombo e tinta, para dali tirar a matéria-prima para a criação de bolsas, cintos, jaquetas, carteiras e tantos outros produtos que fazem a loucura dos turistas.
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Cintos, bolsas, carteiras, malas e outros itens são produzidos no curtume

Ponto obrigatório para brasileiros que visitam Fes, o curtume sagrou-se na televisão, quando serviu de pano de fundo para cenas da novela O Clone, da Rede Globo. O único detalhe que a produção televisiva não revelou é o aroma forte e corrosivo que se estabelece em todo o entorno, o que obriga que, ao chegar à porta principal – anterior a uma escadaria quase interminável – você receba um galho de hortelã. Cheirar intensamente a erva é a única alternativa para tornar os próximos cinco minutos, em frente à área de produção e tingimento, um momento tolerável. Para os mais inexperientes a solução é passar direto para a parte das lojas, que surgem andar após andar, conforme se desce as escadas. Você deve se perguntar por que raios os turistas seguem esta direção? Simplesmente porque eles são curiosos e corajosos o suficiente para experimentarem uma realidade que não é sua, e com ela tirarem o aprendizado a que se dispuserem. Sem contar é claro, que mesmo apesar das condições de trabalho, o curtume se tornou ponto central do turismo desta região marroquina, contribuindo para a economia de muitas famílias.
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Turistas superam o odor do curtume em busca de souvenires autênticos

Passado o cheiro, a surpresa e a curiosidade, nas lojas os turistas de diferentes partes do planeta se distraem com produtos que vertem o aroma mais conhecido do couro, bem como, admiram as cores vermelha, verde, marrom, preta, azul e amarela que compõem a paleta de cores dos artigos daqui. E embora fétido, o negócio do couro vale euros um tanto apreciáveis, tendo como medida um pé, desta forma, por um pé de couro de camelo é cobrado 10 euros, pelo da vaca 7 euros, pelo da cabra 6 euros e pelo do famigerado cordeiro, 4 euros. Nada mal, não?


Flávia Lelis, editora de conteúdo online e amante de viagens por natureza

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