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Nova safra de chefs e enólogos em Bento Gonçalves...

Nova safra de chefs e enólogos em Bento Gonçalves

Oficialmente, a colonização italiana no Brasil teve início no século 19, momento em que o país experimentou aquele apreço dos colonizadores pelas festas animadas regadas à polenta e vinho. Se não fosse pelo prazer de reunir a família entorno da mesa nos finais de semana, os italianos celebravam a colheita próspera da uva. O tempo passou, e em 140 anos de história, os brasileiros aprenderam a amar tradições italianas que no clima frio da Serra Gaúcha ganham mais charme. Por lá, se a pisa da uva ficou em algum lugar no passado, o prazer pela produção de excelentes vinhos segue pulsante nas mãos de uma nova geração interessada em transformar cada chardonnay, merlot e cabernet, em uma bebida de primeira qualidade, digna de um Deus. Das pequenas propriedades, como as vinícolas Cainelli e Cristofoli, até os grandiosos vinhedos da Aurora e da Casa Valduga, os vinhos e espumantes desenvolvidos em Bento Gonçalves vivem um momento de consolidação, tendo à frente o comando de jovens enólogos. Inventivos, eles chegam para temperar a tradição de famílias que fizeram seus nomes no vinhedo, com o frescor de quem não tem medo de se arriscar. Se o vinho está em boas mãos, a gastronomia segue estes bons passos em locais como o Valle Rústico, onde o jovem chef Rodrigo Bellora convida para uma tarde numa roça requintada repleta de deliciosas descobertas da horta.

cainelli
ROBERTO CAINELLI JÚNIOR, 26 ANOS
ENÓLOGO
VINÍCOLA CAINELLI

BTN A enologia sempre foi sua primeira escolha?
Sim. Abrimos a empresa em 2004, mas antes disso eu já participava da colheita em outras propriedades, e me encantava com esse momento. Naturalmente fui entrando no mundo do vinho, meu avô produzia no porão da casa e eu sempre queria ver, participar e, às vezes, roubar um golinho daquela bebida tão mística. Eu inclusive arriscava algumas experiências. Quando reabrimos a empresa, eu já havia decidido cursar Enologia, hoje é minha vida.

BTN O que você considera como principal charme da vinícola?
A nossa ideia de mostrar ao cliente o nosso mundo, o universo do vinho, a nossa história. Essa é a nossa filosofia. Se conseguirmos fazer com que ele sinta parte do amor que sentimos pela uva e pelo vinho, ele será um eterno apreciador da bebida. Tentamos sempre proporcionar experiências ligadas à vinha e à cultura, como os passeios pelos vinhedos, a colheita e pisa das uvas e a visita ao museu. Queremos que nossos visitantes sintam o que sentimos, e entendam o que existe por traz de uma garrafa de vinho.

BTN Qual a estrela da casa? O vinho de que mais se orgulha?
Com toda certeza nosso Marselan. Foi o primeiro grande vinho que elaborei, recebemos uma uva de muita qualidade, e todo o processo de elaboração foi um teste pra mim. Eu tinha muito medo de errar ao longo do caminho, tendo uma grande uva nas mãos e a oportunidade de criar um grande vinho. Foram três anos até o vinho ficar pronto, o que resultou em um grande aprendizado. Esse Marselan foi premiado como o mais pontuado vinho da Grande Prova de Vinhos do Brasil 2014, uma conquista pessoal e para a nossa empresa também.

BTN Como você definiria o seu estilo e com quais uvas você prefere trabalhar?
Gosto muito de uma frase que diz algo como se entre safras diferentes sempre tiver um mesmo vinho, por trás dele existe um grande químico e não um grande enólogo. Penso em produzir cortes também, mas com o intuito de explorar o máximo potencial de cada variedade, resultando em um produto complexo e intenso. Sobre as uvas, com certeza a Marselan, não só por conta do prêmio, mas porque é uma variedade excelente, que se adapta muito bem e todos os vinhos Marselan da Serra Gaúcha são extraordinários. Das brancas, o clássico Chardonnay trabalhado com um toque de madeira para dar mais maciez na boca, aquela nota de manteiga e untuosidade.

Para saber mais:
Onde: Distrito Tuiuty – Rsc 470 – Km 202,6
Contato: (54) 3458-1441
www.vinicolacainelli.com.br

valle rustico
RODRIGO BELLORA, 31 ANOS
CHEF
VALLE RÚSTICO

BTN Quais são suas inspirações culinárias?
A natureza, os grandes chefs e a história.

BTN Já existia a tradição da gastronomia na sua família? O que você trouxe dessas raízes?
Não existia tradição em cozinha profissional na minha família, mas sou filho e neto de mineiras e meu pai é da região da Campanha gaúcha. Além disso, um avô argentino e um bisavô italiano delinearam uma miscigenação interessante que contribuiu para a construção das minhas principais características na gastronomia atual. Essas origens são muito importantes para minha formação cultural. Busco sempre resgatar as origens, os métodos e técnicas ancestrais da gastronomia, e aliados às novas tecnologias recriamos pratos clássicos.

BTN Dentre as composições do Valle Rústico, quais você considera como as mais representativas da sua assinatura?
Minha assinatura está nas paredes, nas mesas e em todos os pratos. É muito forte a minha ligação com o restaurante, esta é minha família e minha casa. Cozinhamos como se tivéssemos cozinhando para nossa família, com o mesmo carinho e cuidado.

BTN Como você deseja que o Valle Rústico se diferencie entre os demais restaurantes de Bento?
Nós temos uma característica única de trabalho que se inicia com a localização: numa montanha em uma casa centenária da imigração italiana. Somado a isso, há a composição dos pratos com ingredientes locais, preferencialmente alimentos orgânicos produzidos no entorno, apresentação contemporânea e cultivo dos ingredientes de maneira sustentável e ecológica. Trabalhamos com um menu de dez etapas onde apresentamos nossas criações mais interessantes com os melhores ingredientes da estação e que atingem seu esplendor quando harmonizados com os vinhos cuidadosamente selecionados pelos nossos sommeliers.

BTN O que é produzido no Valle Rústico e que segue direto para a cozinha?
Tudo o que é produzido aqui é consumido no restaurante. Resumidamente, todas as hortaliças (alface, radicci, chicória, almeirão, mostarda, rúcula), flores (amor-perfeito, cravo, cravina, brinco de princesa, dente de leão, etc), legumes e cereais (pimentão cambuci, milhos,
cebola, aipim, batata, batata doce, pimenta, etc.) e frutas (araçá, limão bergamota, limão siciliano, bergamota, laranja, goiaba serrana, cereja, tomate, abacate, pêssego, maça, etc.)

BTN Qual prato seria a estrela da casa?
Com certeza o risoto de cogumelos.

Para saber mais:
Onde: Linha Marcílio Dias – 15 da Graciema – Vale dos Vinhedos
Funcionamento: Almoço, domingos, das 12h às 15h, Jantar, quarta a sábado, das 19h30 às 22h
Contato: (54) 3067-1163; (54) 8123-0080
www.vallerustico.com.br

Daniel Dalla Valle_enólogo valduga
DANIEL DALLA VALLE, 40 ANOS
ENÓLOGO
CASA VALDUGA

BTN A enologia sempre foi sua primeira escolha? Estava na raiz da sua família?
Sim! Nasci em Bento Gonçalves, sou filho de viticultores e desde criança a uva e o vinho fizeram parte do meu cotidiano. Sabendo que na cidade tinha a única Escola de Enologia, aos 14 anos, saí de casa para fazer o segundo grau e o Técnico em Enologia. Assim que você entra neste mundo é difícil sair ou quase impossível, principalmente para quem nasce ouvindo falar em uva, poda, colheita, vinho degustação…

BTN Você faz parte de uma das mais renomadas vinícolas do país, como você aplica a sua perspectiva mais jovem?
A Casa Valduga tem muita força de tradição, e ao mesmo tempo tem muita inovação e é aberta a novos conceitos e perspectivas. Isto é justamente o que me motivou a desenvolver um trabalho sólido e duradouro, no qual pude trazer novas tecnologias e novos métodos de elaboração, mas nunca esquecendo que o vinho requer respeito e que somente o tempo pode te dar as respostas do sucesso.

BTN O que diferencia a Valduga das demais vinícolas do entorno? Qual a sua uva de predileção?
Na Casa Valduga quando elaboramos os vinhos, temos grande dose de amor e paixão, além da utilização da técnica e do conhecimento, afinal todos são muito especiais. Nosso objetivo, é que quando os vinhos saem da vinícola e entram nos lares, espalhados pelo mundo, que estes fiquem guardados na memória daqueles que os degustarem. As minhas uvas preferidas no Terroir do Rio Grade do Sul, onde atuo, são a Chardonnay e a Merlot.

BTN Qual a estrela da casa? O vinho ou espumante de que você mais se orgulha?
Digo que a estrela da casa é o Espumante Maria Valduga, e por sorte leva o nome de uma dama que é a matriarca da família, que soube muito bem conviver com as dificuldades de sua época e plantar uma semente de prosperidade na futura geração. Hoje é este nobre espumante que faz meus olhos brilharem e vislumbrar além de futuras gerações, o grande potencial enológico que temos, pois quando se trabalha em parceria com a natureza, o sucesso é certo!

Para saber mais:
Onde: Linha Leopoldina – Vale dos Vinhedos
Contato: (54) 2105-3122
www.casavalduga.com.br

André Peres Junior - Enólogo - Créditos Wagner Meneguzzi (2)
ANDRÉ PERES JR, 29 ANOS
ENÓLOGO
VINÍCOLA AURORA

BTN A enologia sempre foi sua primeira escolha? Está nas raízes de sua família?
Apesar de a minha família ter certo envolvimento com o vinho, a ligação sempre foi comercial. Meu avô paterno e meu pai são, até hoje, vendedores de vinhos na região centro-oeste do país. Eu me encantei pelo vinho, por sua história e, especialmente, sua elaboração aos dezoito anos, quando me mudei para a Serra Gaúcha.

BTN A Aurora é uma das vinícolas mais tradicionais de Bento e você é um jovem enólogo. Como casar essas duas gerações de amor pelo vinho?
Acredito que a maior tradição da Cooperativa Vinícola Aurora, nesses quase 85 anos de história, é prezar pela inovação sempre. Temos uma equipe técnica hoje que mescla a experiência de enólogos com 30, 40 anos de casa e jovens como eu, que começaram na Aurora e colaboram para manter a empresa sempre na vanguarda da tecnologia de elaboração de vinhos, sucos e espumantes.

BTN Como você definiria seu estilo e com qual uva você mais gosta de trabalhar?
Sou um apaixonado por tecnologia e pela ciência envolvida na elaboração dos vinhos. Gosto de ter o controle de todas as etapas de vinificação e busco sempre elaborar vinhos com bom frescor, aromas joviais, respeitando sempre a fruta e o tipo de uva utilizada. Nos últimos anos tenho trabalhado muito próximo da Cabernet Franc, e acredito ser a uva tinta mais bem adaptada ao nosso clima e solo. Ano após ano, temos conseguido elaborar vinhos intensos e muito agradáveis com essa variedade.

BTN Qual é a estrela da casa? Vinho ou espumante de que mais você orgulha?
Essa pergunta é complicada. É como perguntar para uma mãe qual seu filho favorito. Mas nos últimos anos tenho focado bastante na elaboração de um Cabernet Franc moderno, jovem, com toda a característica de frutas vermelhas, especiarias, com uma breve passagem por barris de carvalho. Trabalhamos com um pequeno lote de uvas selecionadas e conseguimos elaborar o nosso Aurora Pequenas Partilhas Cabernet Franc, um vinho que, na minha opinião, mostra todo o potencial de elaboração de vinhos tintos na Serra Gaúcha. Sou apaixonado pela acidez desta uva e deste vinho, que o torna muito agradável.

Para saber mais:
Onde: Rua Olavo Bilac, 500 – Bento Gonçalves
Tour: gratuito, inclui visitação e degustação de vinhos
Contato: (54)3455-2000;
www.vinicolaaurora.com.br

bruna
BRUNA CRISTOFOLI, 29 ANOS
ENÓLOGA
VINHOS CRISTOFOLI

BTN A enologia sempre foi sua primeira escolha?
Sim, sempre foi. Nasci numa família de viticultores e então desde pequena temos um ritmo ditado pelo ciclo das videiras. Nosso verão é celebrado com a vindima – sem praia! E no inverno, temos muito trabalho, com a época de poda das vinhas.

BTN O que você quis trazer de diferencial para a produção de vinhos da Cristofoli?
Uma das primeiras mudanças que eu fiz foi nos layouts dos rótulos. Depois comecei a organizar a questão do enoturismo, agora estamos nos dedicando a definir um estilo claro e uma política de médio e longo prazo com relação aos produtos e aos vinhedos. Também tenho uma preocupação com a governança da vinícola, em função dela ser familiar.

BTN A vinícola tem programações diferentes, como o edredom no vinhedo. Como isto costuma funcionar?
O Edredom nos Parreirais é um piquenique diferente que oferecemos no vinhedo que está localizado junto à vinícola. Servimos o Almoço Charmoso no Edredom e o Dolce Far Niente no Edredom (um tipo de happy hour). No almoço servimos como principais pratos massa e salada e no happy hour há canapés, frios e bruschettas. Os clientes precisam reservar com pelo menos um dia de antecedência e nós atendemos apenas grupos com até seis pessoas. Primamos pelo intimismo, personalização e exclusividade.

BTN Qual a estrela da casa? O vinho ou espumante de que você mais se orgulha?
Tenho muito gosto por tudo que produzimos aqui, pois tudo é feito com muita dedicação e respeito. O vinho que nós procuramos destacar, porque nele queremos levar um pouco da nossa herança familiar, é o Cristofoli Sangiovese. Esta é uma variedade italiana, e somos descendentes de imigrantes do norte da Itália. Inclusive neste ano, em que completamos os 140 anos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, criamos um selo alusivo e o ilustramos no rótulo do Sangiovese 2015.

Para saber mais:
Onde: Estrada RS 431 Km 6, s/nº, Faria Lemos
Contato: (54) 3439-1190
www.vinhoscristofoli.com.br

Fotos: CJ, Wagner Meneguzzi


Flávia Lelis, editora de conteúdo online e amante de viagens por natureza

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