Please, não enche o saco

Outro dia voltando de Orlando para Miami, estava a bordo de uma dessas super aeronaves da American Airlines, e nesses voos o mais importante para mim é o conforto. O único detalhe é que estes voos costumam ser lotados de turistas que viajam para fazer compras. E para minha sorte, 99% dos passageiros tinham viajado com este objetivo, o que significou atraso apenas para conseguir acomodar as ditas bagagens de mão dessa galera que liberou geral no cartão de crédito. Ajeita daqui, ajeita dali, portas em automático e nós decolamos. Quando eu achei que já poderia comemorar, a passageira que dividia a fileira comigo, – éramos só eu e ela, com a poltrona entre nós vazia – resolveu começar a emitir alguns ruídos com os dentes e a língua, como se quisesse substituir a utilidade de um palito de dentes. O primeiro ruído passa, mas na 15ª vez, a minha vontade era pedir para o piloto dispensá-la na próxima nuvem.

Numa outra viagem tive a sorte de embarcar com um bebê de colo e um cachorro. Ao longo de duas horas, o bebê, possivelmente doente, chorou. O cachorro latiu. Sou adulta e bastante capaz de entender que o bebê reagia a alguma adversidade, mas e se no voo houvesse cinco cachorros? Correndo o risco de parecer ranzinza, fiquei hospedada em um hotel em Fortaleza há pouco tempo e por lá a acústica do quarto foi colocada à prova. E foi reprovada. Todos que passavam pelo corredor pareciam estar dentro do meu quarto. Crianças corriam de um lado para outro, altas horas da noite. Até agora não entendi porque literalmente gritar naquele ambiente.

Desde seu invento, o ar condicionado é motivo de discórdia entre calorentos e friorentos. Não pertenço a nenhum dos dois grupos, prefiro me posicionar no meio termo, ali na turma do bom senso. Por que eu tenho que congelar ou assar? Não dá para haver um acordo nos 24 graus? E se o ar condicionado for daqueles individuais, como os das aeronaves, entenda que nem mesmo o casamento obrigaria o compartilhamento deles. Sendo assim, vire aquela boquinha todinha para você, ela é toda sua.

Ainda tem os chutes na poltrona, a galera que acomoda aquela bagagem gigante – no seu espaço -, o clássico garoto problema que não quer desligar o celular no voo de 45 minutos, a senhorinha que quer provocar motim porque a companhia aérea não tem serviço de bordo. Sim, este é um dos meus posts mais ranzinzas, mas é que acredito que os mínimos limites entre os indivíduos precisam ser delimitados e respeitados. A TAM acabou de anunciar que em dezembro começa a operar voos em aeronaves A350-900, capazes de transportar até 366 pessoas. Já imaginou se todo resolver aprontar? Se você faz linha que não se importa em incomodar, pense naquilo que mais te irrita sendo feito por 365 pessoas ao mesmo tempo.

Sei lá, vou continuar na minha filosofia do bom senso e encomendar bons fones de ouvido.


Flávia Lelis, editora de conteúdo online e amante de viagens por natureza

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