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Fui pedida em casamento

Fui pedida em casamento

Parece piada, mas não é. Ok, é fato que quando você viaja está se mostrando disposto a exercitar umas das práticas mais deliciosas, na minha opinião: beber de uma nova cultura. Com algumas carimbadas no passaporte posso afirmar que adoro essa bebida, e quero mais é viver bêbada por culpa dela. Contudo, nem sempre é tão fantástico. Por mais que esteja acostumada a aprender com as diferenças, como não tocar em homens em países muçulmanos – nem mesmo um aperto de mão, porque caso contrário eles “se sujam” -, bem como, se fartar de tudo – absolutamente tudo – que é servido numa mesa jordaniana, certas descobertas destoam. Hoje, na consulta no dentista falei o quanto havia gostado de conhecer o Marrocos e os souks de Marrakesh que residiam no meu imaginário como um sonho! E de fato, caminhar por cada uma daquelas ruelas foi emblemático, foi inesquecível. Por lá, antes da compra a ordem era barganhar, pois é desta forma que os marroquinos gostam de negociar. Ok, bora para os souks.

No entanto, a caminhada reservou outra prática marroquina: o flerte. Sou uma brasileira comum, com algumas curvas e nada de muito grande em cima ou embaixo, e que já escutou um punhado de cantadas. Mas nada igual ao “alvoroço” marroquino. Parece que eles sentem o cheiro de brasileiras de longe, talvez porque falamos alto e rimos com muita facilidade. Com a certeza ou não de que se tratam de brasileiras, os comerciantes se aproximavam e para vender seus produtos falavam em inglês rústico, e para fazer comentários dignos de uma péssima cantada, falavam em árabe. Num corredor em Marrakesh, com vendedores de um lado e vendedores de outro, quase saí fluente em árabe. Constrangedor, única e exclusivamente porque eles eram mais invasivos do que qualquer brasileiro que já tenha me passado a mais tosca das cantadas. Até que entrei numa lojinha, com um simpático vendedor. Barganhei, fiz bom negócio e achei que sairia ilesa. Triste ilusão. Ele me perguntou minha nacionalidade e eu respondi. E daí, fui pedida em casamento. Literalmente. Depois de uns segundos atônita, consegui dizer “não”, pois ele realmente falava sério…e considerando que no Marrocos a poligamia é permitida, vai saber!

Na Jordânia – um dos países mais lindos em que já estive – as cenas foram semelhantes. Ao entrar numa loja em um hotel de luxo escutei algo como “você ilumina a minha loja”. Ok, achei fofo. Num passeio pelas ruínas de castelo, após ficar admirando meu grupo de amigos, um senhor de uns 80 anos se aproximou de um amigo meu e lhe perguntou se eu era solteira. Sim, se meu amigo tivesse dado sinal verde, provavelmente, a minha solteirice me colocaria em mais uma situação constrangedora. Nas ruas do centro de Amã, os homens não economizavam no árabe para compor declarações de amor ou cantadas desoladoras. Não sei, não falo árabe. Mas nada como linguagem corporal. Já fui cantada outras vezes, mas nessas ocasiões a impressão é que um sorriso errado e pronto: você está casada. E então vocês devem estar pensando: mas quem mandou usar roupas curtas! No Marrocos, meu vestido saiu com a barra suja, enquanto me esforçava para não tropeçar e cair. Na Jordânia, calça jeans, regata e lenço compunham o visual no passeio pelo centro da cidade. Então, qual era o problema? Primeiro, de fato a brasileira tem mais curvas, que naturalmente chamam mais a atenção masculina. O sorriso farto também é outro componente importante. Contudo, a imagem exportada das brasileiras – a mulata que samba de fio dental, ou a mulher fácil de corpo bonito – não contribui em nada nesta hora. O que é contraditório é que nestes países, a mulher respeitada é aquela que mantém os seus atributos corporais escondidos sob a roupa. No entanto, se você é turista parece que a regra não é a mesma. Uma calça jeans, nos olhos deles, ainda é o mesmo que um biquíni. Um biquíni é um corpo nu.

Estas situações de longe não tiram o valor da experiência turística tanto no Marrocos, quanto na Jordânia. Na verdade, elas fazem parte daquelas diferenças culturais que nós aprendemos a conviver. Quero mais que vocês viajem para lá, conheçam suas riquezas, provem seus sabores culinários e voltem com muita história. Contudo, leitorAs, saibam que o flerte vai acontecer, e que um simples sorriso e um “No, thanks”, podem resolver tudo. Na melhor das hipóteses, assim como eu, vocês não entenderão o árabe, e a metade das bobagens não passarão de blá blá blá.


Flávia Lelis, editora de conteúdo online e amante de viagens por natureza

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