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Eu e a Princesa

Eu e a Princesa

Confesso que a euforia diante da oportunidade de ficar frente a frente com uma princesa tomava conta daquele momento. Melhor do que imaginar questões sobre o passado da realeza portuguesa, era pensar no paradoxo da situação: uma jornalista negra entrevistando a bisneta da Princesa Isabel. Ela é Cristina Maria de Bourbon de Orléans e Bragança, chamada de Dona Cristina e, se vivêssemos nos tempos áureos do Império, Princesa Cristina. Trajada com a leveza e com a educação típicas de uma nobre, a princesa abriu uma exceção e recebeu com exclusividade a reportagem da BTN no Palácio da Princesa Isabel, em Petrópolis, naquele que foi o endereço para a Princesa Isabel e para o Conde D’Eu quando não estavam no Rio de Janeiro, em sua residência oficial. A formalidade que poderia determinar os sessenta minutos seguintes é esquecida diante do sorriso e das piadas simpáticas sugeridas por Dona Cristina.

Cercada por paredes seculares, impossível estar dentro desta casa e conter a imaginação frente à riqueza histórica que se exibe aos olhos. Neste lar, a filha de D. Pedro II discutiu política, recebeu amigos como o aviador Santos Dumont e a varanda foi cenário para aquela que é chamada de a última foto da Família Real no Brasil, em 1888. A entrevista acontece na antiga cozinha do Palácio, ainda decorada com azulejos originais do século 19, e onde atualmente funciona o Antiquário da Princesa comandado por Dona Cristina. Contudo, aqui não há itens do período do Império, daquela época há somente reproduções coloridas da Lei da Áurea para os mais curiosos – e que na verdade foi assinada no Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro. Das ditas joias da coroa, a entrevistada diz possuir somente um broche em formato de beija-flor que pertenceu a sua bisavó. Ao contrário do que imaginava, quando questionada sobre como é ser parte desta família, Cristina fala em parte como neta, em parte como admiradora de seus ancestrais. “Não a conheci, mas sempre ouvi que a Princesa era uma pessoa muito boa. Não é um peso ser um membro desta família, é muito bom. A maneira como a Família Real teve que deixar o Brasil para exilar-se em Portugal foi muito triste”. Ao fim do encontro, mesmo sabendo que tal viagem seria impossível de ser feita, tive a completa sensação de ter visitado uma parte do coração do século 19.


Flávia Lelis, editora de conteúdo online e amante de viagens por natureza

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