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Brotas: muito além da aventura

Brotas: muito além da aventura

Sempre me atraiu a ideia de descobrir um lugar do meu jeito, seguindo meu extinto meio de jornalista, meio de turista. Nada contra roteiros prontos, na verdade, é que sinto que conhecer os limites de um território sem seguir tours clichês parece tornar a experiência mais personalizada, com descobertas inesperadas a cada caminhada. E tais surpresas podem ser desde um vendedor de brigadeiros de esquina, que nunca habitou os guias turísticos, até aquele banho de rio no mais absoluto silêncio desértico. A grande sacada é ser surpreendido, ficar com aquela sensação de que escolheu o lugar certo para desbravar, e que provavelmente as horas serão poucas para guardar tudo na memória.

Essa foi a sensação ao rumar em direção a Brotas, cidade localizada no interior paulista, distante 250 quilômetros da capital, e que figura em grande parte das publicações turísticas como um dos principais destinos de esportes de aventura. E, de fato, ela é. Contudo, a história não se resume a isto, já que depois da sequência de estradas – Bandeirantes e Washington Luís – o turista é levado à Rodovia Engenheiro Paulo Nilo Romano que oferece um percurso de chão novo ladeado por imensas árvores que tornam as horas de viagem de carro um momento agradável, com certo tempero bucólico. As árvores são muitas e, aparentemente, constroem um jardim sem medidas e desenho certos, mas ainda assim, um retrato natural que te leva longe em pensamentos. E para quem está acostumado com buracos e trânsito, sentir o vento a mais de 100 quilômetros por hora, é um prazer particular.
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Limites da lagoa Areia que Canta

Quem escolhe desviar no Km 124,5 desemboca numa estradinha de terra que, sob poeira, te leva aquele clima de roça ainda pouco apreciado na ala turística. Ao passo que vão ficando para trás plantações de laranja e goiaba, vão surgindo peculiaridades de uma vida que anda devagar, e que preza aquele momento de união familiar à mesa, ou que consegue enxergar os encantos gratuitos da natureza, como o simples canto de canários da terra. É nestes arredores também que os privilégios naturais parecem ir além da expectativa, uma vez que é aqui que está instalado o Hotel Fazenda Areia que Canta, uma propriedade que consegue acoplar os melhores detalhes de uma fazenda, o que inclui árvores frutíferas, lagos, horta, criação de animais e o seu pequeno tesouro: a nascente Areia que Canta. O que a princípio é um fenômeno complicado de imaginar, é surreal quando observado. Sob água para lá de cristalina, a areia branca composta por minúsculas partículas de quartzo quando é friccionada entre as mãos produz um som semelhante ao de uma cuíca. Ali, grãos de areia se tornam parte de um coral.

Porém, a nascente não figura solitariamente, já que as corredeiras do rio Tamanduá atraem tanto hóspedes, quanto turistas do entorno que aproveitam as águas geladas em piscinas naturais e em pequenas cachoeiras. A ligação superior é feita por pontes de madeira, e no solo, através da caminhada por trilhas demarcadas pelo tempo. Bem distante da imagem brotense – de destino de aventura consolidado – no interior do hotel, as atividades propostas se divertem ao deixar o hóspede cada vez mais relaxado. Afinal, como se estressar num passeio de canoa no lago ou num passeio a cavalo? Por conta própria, pode-se ainda optar por uma partida de pingue-pongue, pelo bronze na hidromassagem ao ar livre, pelo cochilo numa das dezenas de redes espalhadas pela fazenda. Contudo, nada se compara a carona de trator. Com apenas as árvores como testemunhas, o viajante curte algumas horas relaxantes, antes do almoço que, aliás, se feito no Restaurante Areia que Canta, rende uma viagem de sabores. À moda da roça, é possível comer verduras colhidas frescas na horta, ou esquecer qualquer dieta quando se depara com uma seleção de doces de compota: figo, abóbora, mamão, carambola. E um queijinho branco para acompanhar. Há ainda o doce de leite, o pão de queijo e os bolos do café da manhã, a farofa e a feijoada do almoço, ou o cardápio de massas e caldos do jantar. A digestão rola numa caminhada por entre as alamedas da grandiosa plantação de pés de laranja.
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Redários e paisagem natural completam clima bucólico do hotel fazenda

Assim como o hotel fazenda, Brotas leva seu frescor e nova face para outras fronteiras, apostando em sua potência como destino gastronômico. Um de seus maiores avanços neste sentido é o Brotas Gourmet, evento apoiado pela Associação das Empresas de Turismo de Brotas e Região, que ano após ano, aumenta o número de restaurantes participantes, bem como, o de turistas interessados em saborear noites de temperos inesquecíveis. Na edição 2015, realizada em agosto, sob o tema Receitas recheadas de lembranças, estiveram presentes 16 restaurantes, que com categoria arrebataram os mais diferentes paladares. Na verdade, cada espaço soube deixar registrado uma pitada do imenso talento escondido em suas cozinhas. Destaque para o Baião de Brotas, levado pelo Recanto Alvorada Eco Resort, para a agradável surpresa do Envelope de Brie com Damasco feito pelo Restaurante Malagueta, e o Capeletti da Nonna criado pelo restaurante Areia que Canta nas versões pomodoro, com molho artesanal, e in brodo, com apetitoso caldo de galinha caipira. Entre as opções de sobremesas estavam a Sobremesa dos Deuses, à base de bolo, sorvete, morango e calda de chocolate, do Brotas Zen, e o Pecado da Gula, da Especialeria, que convidava para uma mistura imbatível de torta inglesa de banana desconstruída, mesclando camadas de farofa caramelizada, doce de leite, banana, chantilly e chocolate.

Parte do calendário oficial da cidade, o Brotas Gourmet é uma amostra quase grátis – cada prato custa R$ 15,00 – de toda a riqueza de sabores que existe em cada rua da região. Após uma rápida viagem de cerca de três horas, o paulistano desfruta do privilégio de almoçar num novo point gastronômico do Estado – sem filas, sem demasiado burburinho. Desta forma, na base do talento, Brotas mostra ao turista que não curte descer corredeiras em botes, ou acelerar em trilhas a bordo de quadriciclos, que ela vai muito além da aventura.

Para saber mais:
www.areiaquecanta.com.br

Foto: Peter Alfred Hess


Flávia Lelis, editora de conteúdo online e amante de viagens por natureza

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